Pombal – Grupo Folclórico “Os Pontões”
O Grupo Folclórico “Os Pontões” foi registrado pela Prefeitura Municipal de Pombal-PB por sua importância cultural para a cidade.
Prefeitura Municipal de Pombal-PB
Nome atribuído: Grupo Folclórico “Os Pontões”
Outros Nomes: Grupo Folclórico “Negros dos Pontões”
Localização: Pombal-PB
Decreto de Registro: Lei nº 1928, de 13 de maio de 2020.
Descrição: Os Negros dos Pontões fazem parte do “cortejo real” da Festa do Rosário, representando a guarda real da Irmandade, numa organização que equivaleria a uma monarquia (Araújo, 2014, p. 58). Observei, durante nossa passagem por Pombal, e através da participação na Festa do Rosário, que os Negros dos Pontões são representados por uma ala com homens vestidos com camisas vermelhas e outra ala com homens com camisas azuis. Seu capitão vem trajado com camisa e calça brancos, no peito uma fita transversal representada nas cores azul e vermelha e na cabeça um quepe semelhante aos dos marinheiros. Roberto Benjamin faz uma descrição parecida, destacando o uso de chapéus de palha enfeitados com fitas coloridas e da calça e camisas azuis ou vermelhas (representando as alas), com exceção do chefe, que se veste com roupa toda branca e um quepe estilo marinheiro. Trazem suas lanças nas mãos,66 com maracás, enfeitadas com fitas coloridas (1977, p. 97).
Parte de seus integrantes vive na zona rural de Pombal, na comunidade quilombola Rufinos do Sítio São João. São acompanhados por uma banda cabaçal67, que toca ritmos tradicionais com instrumentos de sopro e percussão, como o pífano e a zabumba, cuja origem remonta à época da colonização portuguesa.
Ainda, como resultado da observação da Festa do Rosário, percebi que os negros dos pontões são responsáveis por acompanhar a Irmandade em alguns momentos dos ritos católicos, como as procissões, e pela devoção ao Rosário. São compostos pelo Capitão (liderança que conduz) e as duas alas, azul e vermelha. Percebemos semelhanças aos
problemas enfrentados pela Irmandade do Rosário em relação ao grupo dos Pontões: seu Capitão, o senhor Clóvis Rufino de Jesus, tinha 80 anos na época da entrevista, e apresentava problemas de saúde, vindo a falecer em 2015. Ele ainda persistia na continuidade das atividades com os Negros dos Pontões, apesar de suas limitações. Sobre isso afirmou: “Eu sou o mestre (capitão), mas agora é o seguinte: é por que peguei uns problemas, num sabe? (…)
Não aguento andar para longe. Aí boto ele (…)”, ao referir-se à utilização de um substituto nas longas caminhadas. Sobre sua permanência, afirmou: “Só deixo quando morrer (…) Trabalhar para Nossa Senhora do Rosário”.
Em nossa visita à comunidade quilombola dos Rufinos do Sítio São João, no dia 11 de setembro de 2014, Gilson Ribeiro, líder da comunidade quilombola Daniel, nos relatou sobre as tradições da comunidade dos Rufinos do Sítio São João, onde muitos homens são integrantes do grupo dos Negros dos Pontões, e onde a atividade tem continuidade através das crianças (Pontões Mirins), incentivadas a manter a “tradição”.
Na comunidade Rufinos do Sítio São João os depoimentos de moradores como o senhor Mazinho e sua esposa Doralice (líderes daquela comunidade), mencionaram os Negros dos Pontões como constituídos a partir daquela comunidade quilombola. Assim, essa visita foi importante para conhecimento do contexto no qual se encontram grupos como os Negros dos Pontões e avaliar as relações entre as comunidades quilombolas e os integrantes do mesmo grupo, compreendendo que grande parte dos membros dos Negros dos Pontões estão unidos por relações familiares. Ao ser indagada sobre a participação na Festa do Rosário, Doralice apenas afirmou que não tinha tanto engajamento com os grupos na festa. O mesmo não ocorre com Gilson Ribeiro, que colaborou com a organização dos Pontões Mirins. Entretanto, a inserção da comunidade Rufinos do Sítio São João com a Festa do Rosário se faz não apenas por meio dos grupos, mas também através da produção do artesanato, que vendem na feira, como uma atividade de subsistência.
Durante a segunda viagem realizada ao município de Pombal (outubro de 2014) foi possível conversar com dona Josefa, moradora da comunidade quilombola Rufinos do Sítio São João. Em nossa caminhada pela famosa Praça do Centenário, localizada em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecemos dona Josefa, e a partir de nossa rápida conversa, tivemos conhecimento de sua relação com o senhor Mazinho, seu primo, o qual conhecemos na primeira visita a Pombal. Dona Josefa nos relatou um pouco da história de seus ancestrais. Sobre seus familiares, contou que até os dias atuais ainda existe a casa de seus avós.
No dia seguinte, enquanto esperávamos Miguel Ferreira para seguir até a casa do senhor Clóvis Rufino, encontramos novamente dona Josefa, que estava vendendo seus produtos de barro. Fato curioso relatado por ela foi que seu avô participava do grupo dos Negros dos Pontões como chefe; durante a Festa do Rosário, ele e o grupo, composto de homens e mulheres, vinham do sítio à cidade de Pombal a pé para prestigiar a festa: dona
Josefa declarou que sua mãe lhe contava: Saia daqui de pés (…) colocava as bolsinhas debaixo dos braços e
acompanhava os Pontões e diz que nem cansava. Pessoal da equipe São João, São João dois, São João um. Diz que a estrada era de pé…que não tinha carro não (…) ia andar de pés (…) ia andar de jumento, de cavalo, é o que
mais tinha. Tinha um jipinho, era muito difícil.
Dona Josefa relatou, ainda, que outro membro de sua família, seu irmão Francisco de Assis, participa dos Negros dos Pontões como suplente de seu Clóvis (chefe dos Pontões). Com o fim de nossa conversa com dona Josefa, seguimos para a casa de seu Clóvis Rufino (chefe dos Negros dos Pontões). Quando da realização desta entrevista, o senhor Clóvis, aposentado, residia na área urbana de Pombal, para onde se mudou para trabalhar.
Muito brincalhão e alegre, ele nos recebeu com muita festa e atenção, comprou um bolo e preparou chá para nos receber. Sentamos à mesa para uma conversa informal, sem um questionário preestabelecido. Seu Clóvis nos relatou que também pertencia à comunidade quilombola Rufinos do Sítio São João. Conversamos principalmente ao respeito da formação dos Negros dos Pontões, seu papel na festa, os desejos para a continuação do grupo. Sobre a existência dos Negros dos Pontões, seu Clóvis apontou: “Os adultos vêm de longa, vem dos meus avós”. Em relação a sua inserção no grupo, e ao título que lhe foi passado por chefe de Biró do Sul (chefe anterior à ele e seu parente):
Antes de morrer ele disse: olhe! eu deixo pra Clóvis (…) aií recebi dele. Hoje em dia, hoje em dia já está, já tem muita gente por aí atrás de instante fazer eleição. Venha atrás de fazer eleição! A passagem é o seguinte, é que nem essa de Biró. A gente faz uma reunião, aí vê, tá vendo quem é que presta para tumar conta (…) todos aceita.
E, ainda, continua: “É entender das coisas, conhecer, saber passo”, disse seu Clóvis sobre o perfil que um chefe dos Negros dos Pontões deve ter. Sobre a composição dos Negros dos Pontões, afirmou: “Tem chefe, tem chefe que nem os Congos, que nem o Reisado tem. O chefe coordena do grupo (…) É o capitão [mesmo que chefe](…) os outros todos, espontão”.
Sobre o trabalho do grupo: “O trabalho da gente ali é trabalhar os três dias, nem precisava chamar”. Em relação aos ensaios: “Próximo, próximo à festa. Assim com uns 15 dia, um mês, ai a gente faz ensaio”. Seu Clóvis encerra declarando: “Eu estimo demais essa brincadeira (…) sou louco, louco, louco, louco (…) se tivesse todo dia eu ia”.
Durante nossa visita à Festa do Rosário, em outubro de 2014, foi possível acompanhar (no sábado) o trajeto dos Negros dos Pontões dançando, tocando e esmolando na Feira, que é considerada parte da tradição dos Negros dos Pontões; observamos, também, a movimentação na missa e na procissão.
Através das entrevistas com representantes dos Negros dos Pontões, mas também pela vivência e proximidade com o grupo no período da Festa do Rosário, foi possível constatar que eles estão trabalhando para a continuidade do grupo, através da organização dos Pontões Mirins trabalho efetivado principalmente com crianças pertencentes às comunidades quilombolas, 70 como salientado anteriormente.
Durante as reuniões que realizamos, das quais participou o padre Ernaldo José de Sousa, pároco de Pombal, um dos problemas apontados por ele, em relação ao grupo dos Negros dos Pontões, foi a ingestão de bebidas alcoólicas durante a festa. Sobre essa questão, o senhor Clóvis afirmou: “Quanto mais bebia, mais sabia trabalhar”. Apesar desta afirmação, pude perceber que o senhor Clóvis não pensava desta maneira, e através da vivência na Festa do Rosário, percebi que essa prática é realizada por poucos integrantes e constantemente censurada pelos próprios participantes do grupo dos Negros dos Pontões.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.
Descrição: A Irmandade do Rosário acompanha o perfil das antigas irmandades católicas, formadas por homens leigos, ou seja, fiéis que não fazem parte da hierarquia eclesiástica da Igreja Católica. No caso específico de Pombal, a Irmandade do Rosário está diretamente relacionada ao culto do Rosário, sendo composta por homens negros. Participam da organização da Festa do Rosário e estão presentes nas cerimônias religiosas e nas procissões da festa. Outros grupos também participam da Festa do Rosário, como o grupo dos Congos, composto por um número variável de participantes (exclusivamente homens), que entoam cantos e dançam unicamente na Festa do Rosário. A dança é realizada no largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, à exceção de quando são convidados para realizarem apresentações em eventos culturais. Já os Negros dos Pontões não têm um número fixo de participantes. Sua função na Festa do Rosário é representar a guarda da Irmandade do Rosário, acompanhando aquele grupo nos trajetos das procissões durante a celebração, ou realizando apresentações desacompanhados da Irmandade do Rosário em variados momentos da festa. Os trajetos desses grupos sempre são realizados acompanhados de música e dança. Para completar os grupos que se apresentam na Festa do Rosário, cito o Reisado, que realiza apresentações em algumas procissões da festa, sendo o seu encerramento o principal momento de apresentação desse grupo.
Por sua vez, todo esse universo está atrelado a uma forte identidade negra, ou seja, uma identidade Afro Brasileira, que como bem designa Alessandra Rodrigues Lima: (…) “toda expressão que evoca, como espaço de elaboração, a experiência da escravidão ou, como origem, os significados e simbologias que remetem à ancestralidade africana” (2012, p. 16). Como é o caso do universo que foi trabalhado nesta pesquisa e que será melhor definido adiante.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.
Descrição: Considerando “expressão cultural” como termo genérico, incorporando elementos que compõe a festa, sobretudo, no plano cotidiano dos grupos sociais e seus conhecimentos (Negros dos Pontões, Irmandade do Rosário, Congos, Reisado), associados aos lugares e paisagens (igreja de Nossa Senhora do Rosário, Casa do Rosário, caminhos das procissões) onde seus participantes podem transmiti-los com o sentido de continuidade de seus costumes e “tradições”, independente da ação institucional do órgão de preservação do patrimônio. Pensando no olhar dos envolvidos com a Festa do Rosário, vemos que essas expressões culturais têm importância fundamental na vida dessas pessoas, interagindo com todas as instâncias da vida: economia, religião, política, etc.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.
Histórico do município: Em 1695, o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo, se encontrava no sertão das Piranhas, no lugar conhecido como Arraial do Pinhancó, na tentativa de fundar uma povoação. O grande impedimento eram os índios tapuias, tribos Tarairiús – Curemas e Panatis, que habitavam a região.
Teodósio, em 1697, viajou a capital da Província e solicitou ao governador Manoel Soares de Albergaria, soldados, mantimentos, armas e munições para expulsar os índios do lugar. Atendido, Oliveira Ledo retornou e consegue “bom sucesso” frente aos indígenas, e funda em 27 de julho de 1698, a Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Pinhancó (Pombal); há 309 anos.
Vila e Emancipação Política
Em 04 de maio de 1772, foi à Povoação do Pinhancó elevada à categoria de vila, com a denominação de Vila Nova de Pombal, em homenagem a cidade portuguesa de mesmo nome. Na mesma data ocorreu a criação da Câmara de Vereadores e sua Emancipação Política, sendo indicado para administrar a vila o capitão-mor, Francisco de Arruda Câmara. O nome Vila Nova de Pombal, diz respeito à Carta Régia de 22 de julho de 1766, que orientava os administradores de vilas a denominá-las com nomes de localidades e cidades de Portugal. É engano pensar que o nome Pombal é em homenagem ao Marquês de Pombal, inclusive, no século XVIII, ainda não estava em moda esse tipo de homenagem aos governantes. O ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, foi quem orientou El-Rei Dom José I assinar a Carta Régia autorizando o governador de Pernambuco a erigir novas Vilas nas áreas de sua jurisdição, que incluía a Capitania da Parahyba. Foram criadas várias vilas, a de Pombal veio primeiro que todas outras, porque era a mais importante, estando sobre extensíssimo território; há 235 anos.
Fonte: Prefeitura Municipal.
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Suelen de Andrade Silva
Me lembro demais dos PONTÕES quando era menino na cidade de Pombal onde nasci. Conheci demais seu BIRÓ DO SUL e CLÓVIS também, eles moravam no Sitio São João onde meu AVÔ SEVERINO MASCENA DANTAS também morava. Eles deixavam eu sacodir aquelas varas cheias de fitas na Festa do Rosário. Eles também eram amigos do meu PAI( MANOEL DE JAIME). Muitas saudades da minha infância em Pombal-PB.