Touros – Marco Quinhentista
O Marco Quinhentista, em Touros-RN, foi tombado por sua importância cultural.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nome atribuído: Marco Quinhentista, na Praia do Marco
Outros Nomes: Padrão Quinhentista, Marco da Praia
Localização: Praia dos Marcos – Touros – RN
Número do Processo: 680-T-1962
Livro do Tombo Histórico: Inscr. nº 352, de 23/08/1962
Descrição: O marco é uma coluna de pedra lioz, de forma retangular, medindo 1.32m de altura. Ostenta em uma das faces as armas do Rei de Portugal, encimadas pela Cruz da Ordem de Cristo, em relevo. Não tem nenhum ornato nem qualquer legenda. O bloco de pedra está assentado ao fundo da “capela”, numa base de alvenaria, à guisa de altar, tendo na parte inferior uma porção de “ex-votos”, testemunho das curas obtidas pela ingênua fé do povo da região, que promoveu o culto desse marco, atribuindo-lhe poder milagroso. Está permanentemente envolvido por centenas de fitas de variadas cores, ali deixadas pelos devotos ao formularem os seus pedidos.
Pelo lado externo da capela, há várias sepulturas escavadas na areia frouxa, transformando o local em singelo cemitério. O mar já tragou várias delas, assim me informaram. O “Marco-da-Praia” é ponto de convergência hoje de humildes devotos que para ali se dirigem a fim de suplicar às suas mazelas, do corpo e do espírito. Segundo me disseram, esse culto remonta a velhos tempos, desde quando o Marco se encontrava em outro local, nas proximidades do atual.
Certa vez um curioso quis verificar se a pedra era inteiramente maciça, pois acreditava-se que no interior dela os “holandeses” haviam escondido alguns tesouros… Na verdade, há uma perfuração de poucos centímetros de profundidade, no meio da pedra, provavelmente feita com o intuito de examinar se a mesma era oca.
monumento destinado a perpetuar na lembrança dos brasileiros o primeiro ponto da costa brasileira delimitado pelos portuguesas, se reputa como certo que o Marco tenha sido ali fincado no ano de 1501. Na “História do Rio Grande do Norte”, de Luís de Câmara Cascudo, lê-se o seguinte:
“No sábado, 2 de maio de 1500, Pedro Álvares Cabral largou de Porto Seguro para as Índias e a nau dos mantimentos seguiu, voltando para Portugal, com o encargo de enunciar ao Rei o encontro da terra de Santa Cruz. O comandante desta nau era Gaspar de Lemos. […] D. Manuel recebendo a notícia do encontro da terra do Brasil, assim chamado pela abundância e excelência dessa madeira, mandou uma expedição à região que Cabral tomar posse para a Coroa. Comandou essa armada, de três caravelas, Gaspar de Lemos e nela viajou o florentino Américo Vespúcio, depois Piloto-Mór de Castela. […] Gaspar de Lemos largou de Lisboa em maio e voltou em setembro de 1501. Esta é a armada que chega ao Cabo de S. Roque (segundo o maior cômputo de probabilidades) e chantou o marco, ainda existente, na chamada PRAIA DOS MARCOS (5o 4′, latitude sul por 35o 48′ 30” de longitude W, meridiano de Greenwich”. […] Partindo, Gaspar de Lemos deixou um sinal de sua passagem como testemunha da posse del-rei de Portugal. Chantou um marco de pedra lioz, o mármore de Lisboa, tendo no primeiro terço a Cruz de Cristo em relevo, e abaixo as armas do Rei de Portugal, cinco escudetes em cruz com cinco bestantes em santor sem a bordadura dos castelos. Já no mapa de João Teixeira, anterior a 1612, indica-se o lugar com o nome de “marco antigo”. Nenhuma outra expedição oficial tocou nas costas do Rio Grande do Norte, Nicolau Coelho em 1503, Cristóvão Jaques em 1516 e 1526, Martim Afonso de Souza em 1530″. (História do Rio Grande do Norte, de L. da Câmara Cascudo – Ed. do Ministério da Educação e Cultura – Serviço de Documentação – p. 31-32).
Na “História das Bandeiras Paulistas” (p. 8, tomo III), Afonso de E. Taunay nos mostra a foto do “marco que foi implantado por uma das primeira expedições de descobertas e explorações da costa brasileira, entre 1501 e 1531, no Pontal de Itacurussá, em Cananeia e que se encontra atualmente no Museu Paulista”. Na página 19 do mesmo tomo, há outra foto do “marco quinhentista, deixado nas vizinhanças de Cananeia”. É exatamente igual ao “Marco-da-Praia do litoral norte-riograndense.
Esquecido e ignorado em praia tão erma, separado do mundo pelas dunas quase intransponíveis, o “Marco-da-Praia” é um monumento histórico que merece melhor destaque. Em se tratando de objeto de incontestável valor histórico, solicito a V. Sa. o seu tombamento, permitindo e defendendo a conveniência da sua remoção para Natal, onde poderá figurar no Museu do Estado a ser organizado no forte dos Reis Magos, onde estaria melhor preservado e visto mais facilmente, o que jamais ocorrerá se ficar onde se encontra, pelas razões já expostas. Até hoje são raros os estudiosos que o foram ver. Evidentemente, pouca gente se atreve a vencer quase 200 quilômetros de estradas precaríssimas, além da caminhada obrigatória de uns 6 quilômetros só para vê-lo, enquanto se estivesse no Museu do Estado, constituiria motivo de interesse não para os norte-riograndenses como para o forasteiro que aqui aportasse. No local deixar-se-ia uma lápide assinalando a época em que foi ele fincado em solo brasileiro e a data da sua remoção para lugar mais conveniente.
Trecho do relatório do Sr. Oswaldo de Souza, 19.03.1962.
Fonte: Processo de Tombamento.
Observação: O marco encontra-se atualmente no Museu do Estado, na cidade de Natal.
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