Barbacena – Antigo Hospital Colônia


Foto: Luiz Alfredo – Imagem: Hospital Colônia de Barbacena

O Antigo Hospital Colônia foi um hospital psiquiátrico da década de 1930, que recebia pacientes de todo o estado e foi apelidada de “Cidade dos Loucos”.

Prefeitura Municipal de Barbacena-MG
Nome atribuído: Prédio da Sede do Antigo Hospital Colônia
Outros Nomes: Sede do Antigo Hospital Colônia – Atual FHEMIG
Localização: Km 6 – BR 265 – Barbacena-MG
Decreto de Tombamento: Decreto n° 3.908/1996
Uso Atual: Museu da Loucura

Descrição: O Hospital Colônia de Barbacena, atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, foi criado em 1903. Na década de 1930 a cidade de Barbacena, que em função do grande nosocômio recebia pacientes de todo o estado, foi apelidada de “Cidade dos Loucos”. Na instituição já se contabilizou algo em torno de 100 óbitos em um único inverno, o que fez com que ficasse conhecida por ser uma das principais fornecedoras de cadáveres para faculdades de Medicina de todo do país.
O espaço é a alegoria de um discurso que faz uso político de um passado doloroso, corroborando as discussões ligadas a Reforma Psiquiátrica. A noção de alegoria faz referencia aqui a teoria literária e pode ser percebida em algumas narrativas de estudos ligados a temática do patrimônio (GONÇALVES, 2002; CHOAY, 2001). Conforme Gonçalves (2002, p. 27), “a alegoria, como sugere a própria
etimologia, representa uma coisa com o propósito de significar outra”. Consiste em uma forma de representação que está “baseada na própria desconstrução do seu referente”. A alegoria remete a uma situação de perda indissociável de uma necessidade de passado histórico, e ainda com uma permanente crença em um futuro mítico e redimido. Evidencia uma necessidade de um passado fundador e autêntico, desnudando simultaneamente o seu desaparecimento.

A narrativa empregada no Museu faz um diálogo permanente opondo transformação e permanência, compondo um jogo entre desaparecimento e reconstrução na busca por novos usos e novos significados ao modelo de psiquiatria representado pelo hospital. O Movimento da Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica, que têm como palavras de ordem “por uma sociedade sem manicômios”, instituíram parte do hospital como Museu, como lugar de memória (NORA, 1984-1987; PINNA, 2003), o qual destina-se a preservar vestígios de um passado odioso da história da psiquiatria brasileira. Pensando o patrimônio como uma atitude política, é possível entender os usos dessa memória como uma reverberação do presente, fruto de uma nova maneira de lidar com a loucura. […]
Fonte: Viviane Trindade Borges.

Descrição: Em 1903 é criado o primeiro hospital psiquiátrico de Minas como Assistência aos Alienados do Estado de Minas Gerais, onde antes funcionava um Sanatório particular para tratamento de tuberculose, o qual havia falido e estava desativado Instalado então, nas dependências do antigo Sanatório de Barbacena, o “hospício”, segundo registros históricos, está situado nas terras da antiga “Fazenda da Caveira” cujo proprietário era Joaquim Silvério dos Reis, conhecido na história mineira como o delator do movimento dos Inconfidentes.
Segundo historiadores, outro motivo teria levado o hospital para a cidade. Quando da escolha da nova capital mineira, Barbacena foi levantada como uma das opções, entretanto, foi preterida por não possuir recursos hídricos satisfatórios e optou-se por Belo Horizonte; como prêmio de consolação, Barbacena ganhou o Hospital dos Alienados.

Assim, entrava em funcionamento o Hospício de Barbacena, depois, Hospital Colônia de Barbacena Sua capacidade inicial era de 200 (duzentos) leitos. Nesta época, o Hospital era constituído de um Centro Hortigranjeiro além das oficinas, olaria e carpintaria. Durante os primeiros 30 anos de funcionamento, o Hospital Colônia foi uma Instituição respeitável oferecendo atendimento humanitário a seus pacientes mesmo dispondo de métodos pouco eficientes em termos de tratamento. Tendo em vista os bons resultados obtidos, o Hospital Colônia, passou a ser um ponto de convergência para todos os pacientes que as comunidades pretendiam curar ou isolar, ou seja, havia uma grande demanda de doentes mentais, sifilíticos, tuberculosos e marginalizados. Com este aumento de pacientes, o Hospital passou por uma mudança radical: os leitos eram insuficientes e a escassez de recursos financeiros, materiais e principalmente humanos, tornaram-se graves problemas. O tratamento dispensado aos pacientes passou a ser desumano e degradante, atingindo elevadas taxas de mortalidade. O Hospital tornou-se mero depósito de doentes, entreposto de comércio de cadáveres Barbacena ganhou o estigma de “Cidade dos Loucos”, e o problema foi se arrastando sem soluções a curto prazo.

O hospital passa a ser chamado de Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, uma Unidade da antiga Fundação Estadual de Assistência Psiquiátrica –FEAP, a qual começa a pertencer a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – FHEMIG, fundada pela Lei Estadual 7088 de 03/10/77, resultado da união de 03 (três) Fundações Estaduais de Assistência à Saúde, entre elas a FEAPE em 1979, um grupo de psiquiatras e profissionais ligados à Saúde Mental, iniciando a luta para reverter o modelo, organizaram o III Congresso Mineiro de Psiquiatria e trouxeram Franco Basaglia, psiquiatra italiano, com uma postura marcadamente antimanicomial. O médico italiano fez uma visita ao Hospital e ficou escandalizado com o que encontrou, considerando o Hospício de Barbacena “Um Campo de Concentração Nazista”. Ainda em 1979, o jornalista Hiram Firmino começou a publicar no jornal Estado de Minas uma série de reportagens intitulada “Os Porões da Loucura”; e o cineasta Helvécio Ratton lançou “Em Nome da Razão”, um curta-metragem demonstrando a vida dentro do hospício.

A partir destas denúncias que chocaram a opinião pública, as autoridades da área da saúde resolveram mudar este quadro contratando profissionais para a área assistencial e mandando um grupo de psiquiatras para Barbacena, que estiveram envolvidos no III Congresso Mineiro, a fim de elaborar um plano de reestruturação do hospital. O projeto foi elaborado e o hospital passou por um profundo processo de transformação e humanização, visando o resgate da cidadania dos usuários para a reintegração social. Representando ainda mais um avanço no processo de reestruturação do CHPB, foi inaugurado em 16 de Agosto de 1996, o Museu da Loucura. O Museu é uma atração não apenas para o meio acadêmico, mas para toda a comunidade. Isto porque, além de mostrar a história do antigo “manicômio”, através da exibição de equipamentos, fotografias, documentação de dados coletados e pesquisados em todo o Estado, enfoca a atual abordagem do tratamento psiquiátrico que vem sendo desenvolvida junto aos pacientes Com isso proporciona abertura para as pessoas aceitarem melhor o portador de sofrimento psíquico e colaborarem no Projeto de reintegração do paciente na comunidade.

De 1903 a até o início da década de 1990, Barbacena conta com sete hospitais psiquiátricos e uma capacidade de oferta de 7000 leitos psiquiátricos. Esse município de clima ameno de montanha, com temperaturas médias baixas para os padrões brasileiros, recebeu a alcunha de “Cidade dos Loucos” durante longos anos. Esse título foi recebido em função dos sete hospitais psiquiátricos que abrigou. A justificativa técnica para a instalação de tantos manicômios no mesmo território deve-se à antiga crença, defendida por alguns médicos da época, de que o clima de montanha era salutar para os que carregavam doenças nervosas. Nesse clima, os loucos ficariam menos arredios e, supostamente, facilitariam o tratamento.
Fonte: Prefeitura Municipal.

Histórico do município: Antes da dominação europeia do atual território que delimita o município de Barbacena, a região era ocupada por grupos indígenas das etnias Puri, Coropó e Coroados. Os últimos remanescentes dos primeiros habitantes do que viria a ser a Comarca do Rio das Mortes foram percebidos por viajantes estrangeiros até a primeira metade do Século XIX. Mortos, expulsos de suas terras ou miscigenados e induzidos ao alcoolismo, pouco deixaram de seu mundo. Artefatos arqueológicos ainda hoje são encontrados na região. Nada mais restou deles.

Caminho Novo: A história da Vila de Barbacena tem início em 1698, quando o Capitão Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias Paes, abre um caminho mais curto para a ligação entre o Rio de Janeiro e o interior das Minas Gerais. Assim surgiu o primeiro núcleo colonial desta imensa região, no entroncamento dos Caminhos Velho e Novo, posteriormente, Estrada Real. Por este Caminho Novo não só passaram todas as riquezas do Ciclo do Ouro, como também vários episódios históricos, entre eles, a reação armada à invasão do Rio de Janeiro, pelo corsário francês Duguay-Trouin, em 1711, a Guerra dos Emboabas e a Inconfidência Mineira. Os locais referenciais dessa época são as Fazendas do Registro (hoje Sá Fortes) e Borda do Campo (hoje Antônio Carlos).

O Arraial da Igreja Nova: O nascimento do arraial começou pela construção capela consagrada a Nossa Sra. da Piedade que tornou-se matriz em 1726. A capela ainda permanece na Fazenda da Borda. Com a distribuição de muitas sesmarias na região, esta ficou pequena para o grande número de moradores da Borda do Campo, por isso decidiu-se pela construção de uma igreja maior, em terras da Fazenda da Caveira de Cima. A decisão se deu em 1725. Em torno desse templo, em 1753, foi autorizada a construção de casas. O arraial se expandiu à medida que pequenas casas comerciais se estabeleciam para atender os tropeiros que circulavam na Comarca do Rio das Mortes. Em 1791, com a exploração do ouro já em decadência, o então Arraial da Igreja Nova de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campolide, foi elevado à categoria de vila, recebendo o nome de Barbacena. Uma homenagem oportunista ao Visconde de Barbacena, nobre português que governava Minas Gerais. Esse acontecimento se deu simultaneamente aos desdobramentos da Inconfidência Mineira, denunciada em 1789. Cinco dos principais envolvidos no movimento, incluindo Joaquim da Silva Xavier e Joaquim Silvério dos Reis, tinham ligações com Barbacena. O dono da Fazenda da Borda do Campo, José Ayres Gomes foi expulso do Brasil, teve suas terras confiscadas e morreu esquecido em Moçambique, na África. O irmão de Tiradentes, Padre Antônio da Silva Santos e o delator Silvério dos Reis moravam na vila de Barbacena. O padre, na Rua Tiradentes, o traidor, na região do Pontilhão.

O nome: Barbacena é a denominação dada ao Arraial da Igreja Nova, quando de sua emancipação em 14 de agosto de 1791. Era o governador de Minas, Luiz Antônio Furtado do Rio de Mendonça, o Visconde de Barbacena que, em meio ao processo de repressão à Inconfidência Mineira, estava sendo pressionado pela população do Arraial a separá-lo do termo de São João Del-Rei. O nome de Barbacena significa, ‘Cabana de Bárbaros’ e é originário de uma aldeia de bárbaros localizada na atual região de Elvas, cidade portuguesa do Alentejo, que até hoje mantém um pequeno distrito com o mesmo nome. A família nobre que ostentava o titulo de senhores de Barbacena marcou a história brasileira com um Vice-rei, um governador da capitania do Rio de Janeiro, de Minas Gerais – o sexto visconde de Barbacena que deu o seu nome à cidade. O Visconde de Barbacena, apesar de ser visto historicamente no Brasil como o algoz dos Inconfidentes, era um nobre culto, especializado em mineralogia e ciências. De volta a Portugal, fez parte do grupo de nobres que não acompanhou a fuga da Corte Portuguesa, em 1808, quando Napoleão Bonaparte, dominou Portugal. Foi um dos interlocutores para garantir que não haveria ataques à população civil. Foi preso por Napoleão.

Independência e República: No século XIX, Barbacena continua como uma passagem estratégica para todos que se dirigem ao interior de Minas. Torna-se rota comercial importante e entreposto de víveres e escravos africanos. Com sua influência política consolidada, a Câmara Municipal de Barbacena tem participação ativa na movimentação pela independência do Brasil e mesmo chega a remeter carta a D. Pedro I, ofertando a cidade como capital do Brasil, em caso de ataques da metrópole ao Rio de Janeiro. Personagem de destaque deste período é o Padre Manoel Rodrigues da Costa, dono da Fazenda do Registro Velho, que viveu 92 anos. O suficiente para participar da Inconfidência Mineira, receber anistia da Coroa Portuguesa, participar da Independência, representar o Brasil nas Cortes Portuguesas, apoiar a maioridade de D. PedoII e apoiar a Revolução Liberal de 1842. Na maior parte do Século XIX, os grandes fazendeiros comandam a cidade econômica e politicamente. Os imperadores do Brasil, pai e filho visitaram Barbacena em várias épocas. D. Pedro I, concedeu à Vila, o título de “muito nobre e leal”. Mas a lealdade à monarquia brasileira não impediu que o Movimento Republicano ganhasse força entre a elite política local, mesmo com vários barbacenenses de famílias importantes como os Magalhães, os Lima Duarte, os Armond e outras, ocupando cargos importantes nos ministérios e na diplomacia brasileira. Ainda assim, o último monarca brasileiro visitou a cidade três meses antes da Proclamação da República. Aqui se formou um grupo paramilitar de jovens que se propunha a enfrentar Antônio Conselheiro, visto na época como antirrepublicano. Foi a “Centúria Republicana”.
Fonte: Prefeitura Municipal.

MAIS INFORMAÇÕES:
Prefeitura Municipal
Viviane Trindade Borges
Geledés – Instituto da Mulher Negra
Prefeitura Municipal
Wikipedia


3 comments

  1. Gabriel Caetanno |

    Boa noite, prazer sou o Gabriel Caetanno, sou estudante de Jornalismo pela UNIP Campinas SP e agradeço desde já a resposta.

    Então meu tema de TC como já expliquei é sobre o Hospital Colônia de Barbacena com foco na tragédia quando ainda era um hospital psiquiátrico.
    Gostaria de saber se poderíamos marcar pra conversamos e futuramente uma entrevista?

    1. Bom dia,
      Somos uma plataforma que reúne informação sobre o patrimônio cultural, segundo o que está disponível nos sites oficiais.
      Infelizmente, não temos maiores informações sobre cada bem em específico.
      Atenciosamente,
      Equipe iPatrimônio

  2. Ahmed Hosif |

    Infelizmente, esse ideário antimanicomial nos trouxe ao cenário que temos hoje. Temos uma população histérica, comandada por loucos, que só trabalham para deixar a sociedade ainda mais louca. Que falta faz um ambiente que sirva para tratar essas pessoas como o que são: doentes. Tratar com normalidade aquilo que é anormal, não é tolerância, é somente um desserviço à inteligência.

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