Fortaleza – Casa da Raquel de Queiroz
A Casa da Raquel de Queiroz foi tombada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza-CE por sua importância cultural para a cidade.
COMPHIC – Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural
Nome Atribuído: Casa da Raquel de Queiroz
Localização: R. Antônio Ivo, nº 290 – Bairro Henrique Jorge – Fortaleza-CE
Resolução de Tombamento: Decreto n° 12.582/2009
Descrição: Fica tombado, em caráter definitivo, o imóvel localizado na Rua Antônio Ivo, nº 290, Bairro Henrique Jorge, denominado Casa da Raquel de Queiroz, haja vista o seu alto valor históricocultural e simbólico, portador de inelutável referência à identidade e à memória da sociedade fortalezense.
Fonte: Resolução de Tombamento.
Descrição: Adquirida pelo pai de Rachel de Queiroz, Daniel de Queiroz, em 1927, para facilitar o acesso dos filhos aos estudos, o Sítio Pici ficava perto da lagoa de Parangaba, que nesse tempo pronunciava-se “Porangaba”, e também do Rio Pici ou “Picy”. Pertencera à família do padre Rodolfo Ferreira Gomes e foi vendido depois a um industrial, José Guedes, de quem Daniel comprou o imóvel e fez uma nova casa para atender suas necessidades. Assim, Raquel de Queiroz ingressa no curso Normal do Colégio Imaculada Conceição, aos 10 anos, e tempo depois ajuda seu irmão Flávio no exame de admissão do Colégio Militar.
O Sr. José Odacy Natalense Lemos, dono do Bar Avião, na Avenida João Pessoa, diz que via Raquel de Queiroz voltando do colégio, ao saltar do trem (a linha do trem ficava no cruzamento da João pessoa com Carneiro de Mendonça) para a charrete estacionada no antigo asilo de “Porangaba” (o asilo abriga o Hospital São Vicente). Segundo Lemos, de lá, o transporte seguia por uma estrada vicinal (hoje a Avenida Carneiro de Mendonça) que desembocava em uma propriedade de limites extensos, o Sitio Pici.
A Casa do Pici, onde Raquel escreveu, aos 20 anos, o seu primeiro livro, O Quinze (1930), casou com José Auto (1932) e teve sua filha Clotildinha (1933), que falece dois anos depois, quando morre também seu irmão Flávio, aos pouco se transforma na Casa de Raquel de Queiroz ou Casa dos Benjamins.
A casa do Pici foi o refúgio para a dor da perda de sua filha e do seu irmão, momento que escreve Caminho de Pedras (1937). Mas, em 1939, já separada de Auto, volta ao Rio de Janeiro, em 1945 Raquel e Oyama, seu novo companheiro, residem na Ilha do Governador/RJ. E, após a morte de sua mãe, 1954, os filhos fizeram à partilha das terras da família e venderam a casa do Pici.
Ainda que um pouco deteriorada, a edificação preserva vestígios da arquitetura original da época da construção, ou seja, as colunas, os mesmos armadores de ferro fundidos á parede e os três pés de Benjamins plantados pela mãe de Raquel, a Sra. Clotilde. Tais árvores dão o tom de um tempo e espaço definidos pelo predomínio da relação amistosa entre homem, natureza e ordem urbana.
A Casa de Raquel de Queiroz (Casa dos Benjamins ou Sítio do Pici) expressa, portanto, para toda sociedade as razões de seu cotidiano, o resultado dos conhecimentos experimentados na sua infância vivida no sertão do Ceará, através da escrita do “O Quinze“, obra que inaugura discurso crítico e politizado sobre a seca, em especial a que assola os cearenses em 1915.
Cúmplice dos sentimentos, da indignação e dos lances de inspiração da nossa querida escritora, essa Casa é como um livro sem censura que deve ser lido, com certeza, admirado, soletrado, apalpado e guardado, melhor, preservado como elemento de materialidade para o patrimônio histórico e cultural da nossa cidade.
Fonte: SeCult.
Histórico do município: Capitania dependente, o Ceará teve a sua formação econômica iniciada no século XVII com a pecuária, para fornecer carne e tração à economia açucareira estabelecida na Zona da Mata. E Fortaleza, fundada em 13 de abril de 1726, ficou à margem.
Nessa fase, a cidade primaz era Aracati. Icó, Sobral e Crato também ocupavam o primeiro nível na hierarquia urbana no final do século XVIII. Ao contrário de Aracati, de Icó e de outras vilas setecentistas fundadas nas picadas das boiadas, Fortaleza achava-se longe dos principais sistemas hidrográficos cearenses – as bacias dos rios Jaguaribe e Acaraú – e, portanto, à margem da atividade criatória, ausente dos caminhos por onde a economia fluía no território.
Por todos os setecentos, a vila não despertou grandes interesses do Reino, não tendo desenvolvido qualquer atividade terciária. Mas, em 1799, coincidindo com o declínio da pecuária (a Seca Grande de 1790-1793 liquidou com a atividade), a Capitania tornou-se autônoma, passando a fazer comércio direto com Lisboa, através, preferencialmente, de Fortaleza, que se torna a capital.
De 1808 em diante, com a abertura dos portos, o intercâmbio estendeu-se às nações amigas e, em especial, à Inglaterra, para onde o Ceará fez, em 1809, a primeira exportação direta de algodão.
Como capitania autônoma, o Ceará ingressava então na economia agroexportadora. O viajante inglês Henry Koster, que, exatamente nessa época (1810), visitou Fortaleza, não a enxergava com otimismo: “Não obstante a má impressão geral, pela pobreza do solo em que esta Vila está situada, confesso ter ela boa aparência, embora escassamente possa este ser o estado real dessa terra. A dificuldade de transportes (…), e falta de um porto, as terríveis secas, [todos esses fatores] afastam algumas ousadas esperanças no desenvolvimento da sua prosperidade”.
Em 1822, com o Brasil independente, o Ceará passou a província; no ano seguinte, a vila de Fortaleza foi elevada a cidade, o que robusteceu o seu papel primaz, dentro já da política de centralização do Império. As propriedades agropecuárias da província, a principal riqueza de então, pertenciam a pouco mais de 1% da população livre. Dado que a Lei de Terras, de 1850, só fez contribuir para a concentração fundiária, estavam fincadas então as bases das desigualdades de renda e riqueza que, embora em menor proporção, observam-se até os dias atuais no Ceará e em Fortaleza.
Fonte: Prefeitura Municipal.
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