Pombal – Grupo Folclórico “Congos”


Imagem: Suelen de Andrade Silva

O Grupo Folclórico “Congos” foi registrado pela Prefeitura Municipal de Pombal-PB por sua importância cultural para a cidade.

Prefeitura Municipal de Pombal-PB
Nome atribuído: Grupo Folclórico “Congos”
Localização: Pombal-PB
Decreto de Registro: Lei nº 1928, de 13 de maio de 2020.

Descrição: Em relação ao grupo dos congos, suas origens remetem ao reino do Congo, formado por grupos Bantos, abrangendo grande extensão da África Centro-Ocidental. Sobre esse contexto, Marcos Martins aponta:

As entronizações reais, e o sentimento de pertencimento a um corpo real, já faziam parte do complexo cultural congolês. É fundamental chamar a atenção que esse aspecto da cultura dos habitantes do Congo opera a ligação com as práticas de coroação de Reis Negros que se multiplicaram em Portugal e em toda a América, nos séculos seguintes. Não por ação, o nome recorre dessas entronizações era, e ainda é, coroações de reis de congo. (Martins, 2014, p. 67).

Percebe-se a existência de grupos de Congos espalhados pelo Brasil, com variações e semelhanças em suas expressões. Como exemplo de variação, pode ser citado o grupo em Sete Lagoas/MG. Entre os grupos de Congos, percebe-se a existência da Rainha Conga da Guarda de Congo de Santa Rita, elemento inexistente no grupo de Congos de Pombal.

Inclusive, em Pombal, ao serem indagados sobre a existência de tal figura, negam a presença de qualquer personagem feminino na manifestação, remetendo à exclusividade masculina presente em grande parte dos grupos relacionados à Festa do Rosário de Pombal. Interessante a comparação também com o grupo dos Congos de Cidade de Goiás/GO. Destaco a dissertação de Eliene Macedo (2015), que discute a performance e relações existentes dentro do grupo. Interessante, nessa comparação, é a relação com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, pois o líder dos Congos da Cidade de Goiás ingressou no grupo em sinal de promessa à santa. Alguns dos membros dos Congos, e de outros grupos relacionados à Festa do Rosário, como a Irmandade do Rosário (no caso o senhor João Raimundo), ingressaram nos grupos em sinal de promessa a Nossa Senhora do Rosário. Outras semelhanças que podem ser apontadas são as marchas e embaixadas na dança, bem como a não participação de
mulheres como dançantes.

Segundo a fala de um dos integrantes dos Congos de Pombal, Miguel Ferreira da Silva, rei dos Congos a quase 25 anos, de 46 anos de idade, o grupo absorveu algumas características dos Congos olindenses, em razão das viagens feitas por Manoel Cachoeira, primeiro rei da Irmandade do Rosário, a Olinda, entre os anos 1888 e 1892, fato observado também nas pesquisas de Roberto Benjamin (1977) e Jerdivan Araújo (2014, p. 33). Durante a Festa do Rosário, participaram do grupo 11 pessoas, que cantavam e tocavam suas marchas, além de uma ou duas pessoas que tocavam viola. Esses onze integrantes são referenciados nas letras das músicas do grupo, que fazem referência ao rei, ao secretário, e ao embaixador.

Segundo o que foi verificado nas visitas de campo, o secretário e o embaixador encabeçam cada qual uma ala, uma azul e outra vermelha, respectivamente. Usam maracas nas mãos, roupas azuis e vermelhas, com um saiote de renda por cima da roupa e chapéus pontudos com espelhos fixados neles, diferenciando-se do rei, que usa terno e coroa na cabeça.

Sua apresentação é dividida em três momentos: a primeira dança, “pulo do boi”, em louvação ao Rosário e a Nossa Senhora do Rosário, num diálogo entre o secretário e o rei; a segunda parte, zabelinha; e a terceira e última, a tesoura ou tesourinha (passo mais rápido).

[…] Sobre a performance do grupo, o depoimento de João de Sousa Santos descreve o papel do Secretário dos Congos: “Cantar (…) eu que canto, (…) a parte das coreografias eu que faço também, aprender a fazer, quando vamos nos apresentar (…) Embaixada com rei também, eu chamo o rei né, também pra dançar também com a gente, na parte da zabelinha, é muito bonito”. E sobre sua inclusão no grupo dos Congos, relata demonstrando a relação familiar dentro dos grupos: “Meu tio, né. Naquele tempo meu tio já dançava. Aí, eu vendo ele dançar e os demais, meu primo, família, né. Comecei a me envolver, comecei a dançar, a dançar, né, no grupo. Acho que comecei a dançar com idade de oito anos”.

A única figura feminina no grupo dos Congos é a zeladora, posto atualmente ocupado por Maria de Sousa Santos, que cuida do vestuário dos integrantes do grupo. Ela é irmã do antigo rei e mãe do atual secretário dos Congos. Considero a importância desta entrevista por se tratar da única figura feminina do grupo. Maria relatou que ajudava a mãe com a organização das roupas dos Congos e por isso também viajava com eles: “Porque gosto, e sou, sou da igreja do Rosário (…) Minha mãe também viajava com os Congos, até para o Rio de Janeiro, minha tia também (…) Acho muito bom, eles são animados”.

Sua fala evidencia o quão importante o grupo dos Congos tem sido em sua vida e na vida de sua família, e como
lhe agrada fazer parte deste universo.

Constatei, durante a pesquisa de campo em 2014, e através dos depoimentos de integrantes dos grupos dos Congos e dos Negros dos Pontões, que a apresentação dos Congos na Festa do Rosário era realizada no último domingo da Festa. Já em 2015, na atual configuração da festa, passaram a se apresentar também na abertura. Assim, podemos inferir que as apresentações vão se moldando de acordo com as configurações sociais, conforme presenciamos nas reuniões entre a paróquia de Pombal e os representantes dos diversos grupos que compõem a Festa do Rosário. As reuniões ocorreram por pressão dos grupos e por influência do Iphan/PB, objetivando dar maior visibilidade aos “grupos folclóricos” e acrescentar outras apresentações no cenário da Festa do Rosário.
Para quem chega a Pombal, os Congos parecem ser o grupo mais bem organizado da Festa. Minha percepção a respeito disso se deu a partir da articulação promovida pelo rei dos Congos, Miguel Ferreira, também funcionário da prefeitura de Pombal. Miguel Ferreira programa apresentações extras para o grupo, como em escolas ou festivais culturais, as quais têm sido feitas por seus integrantes, segundo ele, com muito interesse pela continuidade das expressões. Sobre isso, Miguel declarou em sua entrevista:

Fui empurrado pelo próprio grupo porque me viu nessa condição. Não, Miguel é um cara que sabe organizar, conseguir as apresentações pra gente, ele corre atrás, ele gosta de organizar, e de ter uma certa liderança, que não é imposta, é nata (…).

Como se observa em sua fala, o mesmo compreende seu papel no grupo como um dom; por isso, sente que não foi empurrado para nada. Na verdade, entende-se feliz por ter sido inserido naquele contexto. Segundo Miguel, “os ensaios dos Congos eram muito concorridos para assistir”, por não existirem muitos outros atrativos na cidade.

Merece destaque nas falas dos integrantes do grupo dos Congos, sobretudo, na de Miguel Ferreira, a ênfase conferida à maior visibilidade dos Congos, ao longo de sua existência. Por exemplo, quando se reforça que o grupo é requisitado em pesquisas e fontes audiovisuais, como os das Missões de Pesquisa Folclórica (1938). Portanto, isso possibilitaria uma interpretação de que os Congos se sobressaem a outros grupos. Entretanto, não foi possível perceber outros tipos de contribuições das fontes audiovisuais da Missão de Pesquisas Folclóricas, sobre os grupos, tais como percepção deles próprios se enxergando como “folclóricos” ou “culturais”. Compreendo que essa percepção tenha surgido não por este trabalho em específico, mas sim pelo conjunto de trabalhos que ao longo dos anos foram realizados a partir das expressões culturais de Pombal.

Foi possível perceber que esse tipo de posicionamento, descrito mais acima, também é evidente por parte de outros grupos, como os Negros dos Pontões e o Reisado. Em entrevistas, alguns integrantes destes grupos, entre eles, Ivônio dos Santos, deixam transparecer o destaque maior dado aos Congos, principalmente por aqueles que buscam conhecer mais sobre a Festa do Rosário, onde Miguel Ferreira sempre é buscado para adquirirem informações sobre o assunto.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.

Descrição: A Irmandade do Rosário acompanha o perfil das antigas irmandades católicas, formadas por homens leigos, ou seja, fiéis que não fazem parte da hierarquia eclesiástica da Igreja Católica. No caso específico de Pombal, a Irmandade do Rosário está diretamente relacionada ao culto do Rosário, sendo composta por homens negros. Participam da organização da Festa do Rosário e estão presentes nas cerimônias religiosas e nas procissões da festa. Outros grupos também participam da Festa do Rosário, como o grupo dos Congos, composto por um número variável de participantes (exclusivamente homens), que entoam cantos e dançam unicamente na Festa do Rosário. A dança é realizada no largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, à exceção de quando são convidados para realizarem apresentações em eventos culturais. Já os Negros dos Pontões não têm um número fixo de participantes. Sua função na Festa do Rosário é representar a guarda da Irmandade do Rosário, acompanhando aquele grupo nos trajetos das procissões durante a celebração, ou realizando apresentações desacompanhados da Irmandade do Rosário em variados momentos da festa. Os trajetos desses grupos sempre são realizados acompanhados de música e dança. Para completar os grupos que se apresentam na Festa do Rosário, cito o Reisado, que realiza apresentações em algumas procissões da festa, sendo o seu encerramento o principal momento de apresentação desse grupo.

Por sua vez, todo esse universo está atrelado a uma forte identidade negra, ou seja, uma identidade Afro Brasileira, que como bem designa Alessandra Rodrigues Lima: (…) “toda expressão que evoca, como espaço de elaboração, a experiência da escravidão ou, como origem, os significados e simbologias que remetem à ancestralidade africana” (2012, p. 16). Como é o caso do universo que foi trabalhado nesta pesquisa e que será melhor definido adiante.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.

Descrição: Considerando “expressão cultural” como termo genérico, incorporando elementos que compõe a festa, sobretudo, no plano cotidiano dos grupos sociais e seus conhecimentos (Negros dos Pontões, Irmandade do Rosário, Congos, Reisado), associados aos lugares e paisagens (igreja de Nossa Senhora do Rosário, Casa do Rosário, caminhos das procissões) onde seus participantes podem transmiti-los com o sentido de continuidade de seus costumes e “tradições”, independente da ação institucional do órgão de preservação do patrimônio. Pensando no olhar dos envolvidos com a Festa do Rosário, vemos que essas expressões culturais têm importância fundamental na vida dessas pessoas, interagindo com todas as instâncias da vida: economia, religião, política, etc.
Fonte: Suelen de Andrade Silva.

Histórico do município: Em 1695, o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo, se encontrava no sertão das Piranhas, no lugar conhecido como Arraial do Pinhancó, na tentativa de fundar uma povoação. O grande impedimento eram os índios tapuias, tribos Tarairiús – Curemas e Panatis, que habitavam a região.

Teodósio, em 1697, viajou a capital da Província e solicitou ao governador Manoel Soares de Albergaria, soldados, mantimentos, armas e munições para expulsar os índios do lugar. Atendido, Oliveira Ledo retornou e consegue “bom sucesso” frente aos indígenas, e funda em 27 de julho de 1698, a Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Pinhancó (Pombal); há 309 anos.

Vila e Emancipação Política
Em 04 de maio de 1772, foi à Povoação do Pinhancó elevada à categoria de vila, com a denominação de Vila Nova de Pombal, em homenagem a cidade portuguesa de mesmo nome. Na mesma data ocorreu a criação da Câmara de Vereadores e sua Emancipação Política, sendo indicado para administrar a vila o capitão-mor, Francisco de Arruda Câmara. O nome Vila Nova de Pombal, diz respeito à Carta Régia de 22 de julho de 1766, que orientava os administradores de vilas a denominá-las com nomes de localidades e cidades de Portugal. É engano pensar que o nome Pombal é em homenagem ao Marquês de Pombal, inclusive, no século XVIII, ainda não estava em moda esse tipo de homenagem aos governantes. O ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, foi quem orientou El-Rei Dom José I assinar a Carta Régia autorizando o governador de Pernambuco a erigir novas Vilas nas áreas de sua jurisdição, que incluía a Capitania da Parahyba. Foram criadas várias vilas, a de Pombal veio primeiro que todas outras, porque era a mais importante, estando sobre extensíssimo território; há 235 anos.
Fonte: Prefeitura Municipal.

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Suelen de Andrade Silva


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